sábado, 26 de novembro de 2011

Exercício - Descrição de personagem

As calças do Rui estão na eminência de lhe escorregarem do traseiro, se encolhesse apenas um pouco a barriga, enquanto caminha, ligeiramente fora do passeio e estrada fora. Tem as mãos enfiadas até ao fundo dos bolsos, a cabeça inclinada para baixo, um gorro de lã que deixa de fora apenas os lóbulos das orelhas.
Rui gosta do Inverno porque usando uma barba - que desejava fosse mais cerrada - e o gorro de lã enfiado até às orelhas, há poucas probabilidades de alguém o reconhecer. Há poucas probabilidades, até, de ele próprio se reconhecer. Quanto menos vir de si, melhor.
Se ao menos pudesse cortar o raio da barba e pegar no estupor do carro, ali ao fim da rua, sem o deixar ir abaixo três vezes. Consecutivamente, até se enervar e bater com a porta. Aos trinta anos, pensava ele, devia ser capaz de conduzir um carro. Não fossem as estratégias mentais que inventara para não ter de sair de casa.
Pois agora tinha de sair. E tinha de conduzir um carro. E não tinha apenas de o fazer. Queria-o. Desejava-o tanto quanto desejava ser outra pessoa.

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