sábado, 26 de novembro de 2011

Inesperadamente no quarto

Ela entrou em casa batendo furiosamente a porta da entrada, dirigia-se em passo rápido para o quarto como se nenhuma alma a conseguisse travar, no seu interior crescia fúria, fúria misturada com ânsia, desejo, saudade e muitos mais sentimentos que compõem a paixão. Os seus olhos azuis ardiam de sensualidade, flamejavam como duas chamas saídas de maçaricos. Ao longo do extenso corredor que dava para o quarto, ia tirando as peças de roupa, uma a uma. O curto casaco de cabedal foi o primeiro a ficar junto a porta, depois seguiu-se o cinto de couro que atirou para a mesa do corredor juntamente com as chaves de casa, soltou então o elástico que lhe prendia o negro cabelo liso balançando-o suavemente para o soltar na totalidade e com um movimento brusco da cabeça atirou-o para trás das costas. Começou a tirar as botas violentamente com o auxílio dos pés ficando ambas separadas por um metro, agora os seus pés nus caminhavam na carpete percorrendo suavemente e sem qualquer barulho a distância que remanescia até ao quarto. Quando começou a desapertar os primeiros botões das calças estava já a meio do corredor, e cada passo que dava desencadeava o deslizamento gradual das mesmas, expondo a sua roupa íntima que era de um vermelho mais tinto que o vinho. Ao chegar á porta do quarto, abriu-a com força, onde ele se encontrava, á janela a fumar um cigarro, com o seu casaco de veludo negro e o chapéu de capitão que nem sequer tinha ainda tirado. Dirigiu-se a ele como uma fera sobrenatural, nada a parava, algo a consumia ardentemente como uma chama consome a madeira e o oxigénio em absoluta combustão. Sim era isso, podia-se dizer que ela estava em plena combustão, estava brava, esperara aquele momento vezes sem conta, contara na memória infinitas vezes, fizera contas com os dedos, fizera cálculos nas horas de trabalho, em casa, no banho, imaginara mais de mil vezes o filme, o episódio, a situação. Já não o via há duas semanas, com a agravante que tinham discutido antes de ele embarcar. Era a hora de por tudo em pratos limpos. O acontecimento deu-se todo numa fracção de segundo: Sem lhe dar tempo de pensar ela arrancou-lhe o cigarro da mão, deu um bafo e atirou-o pela janela. Espantado, ele não teve tempo de dizer qualquer palavra nem de fazer qualquer expressão, nem sequer teve possibilidade de executar qualquer gesto. No entanto todo o filme que ela fizera, todo o arranjo, todos os cálculos, a preparação; tudo se esvanecera por completo da sua mente, mas ela determinada não ia abdicar daquilo que tinha para dizer. Os seus olhos cruzavam-se com os deles e que fez ela então. Beijou-o, beijou-o tão fortemente que não acredito que haja beijo mais grandioso e digno de ser trovado como aquele. Beijou-o dizia eu, com tanta paixão que era agora impossível reproduzir tal beijo novamente. Beijou-o e começou a tirar-lhe a roupa a qual acção ele não se opôs, acompanhou-a tirando-lhe a roupa que restava no corpo. Ela beijou-o apaixonadamente enquanto as mãos de ambos percorriam os corpos já nus, prontos a fundirem-se num só. Faltara apenas ela dizer aquilo que a melindrava, que guardara desde a ultima discussão que tiveram. Cruzou o olhar com o dele e passou-lhe a mão pela face, enquanto ele mordiscava-lhe o pescoço ela disse-lhe ao ouvido: “Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer …. “ Não conseguiu no entanto acabar aquilo que tanto esperará para lhe dizer, ela soluçava, as pernas desfaleciam, tremiam de desejo o seu coração originava batidas que parecia um bombardeiro em plena guerra, as mãos dele sentiam todos os centímetros do corpo dela, sentiam os seios, acariciavam-lhe as nádegas, acarinhavam-lhe o sexo, sentiam-lhe o prazer, afagavam lhe o cabelo e a cara, tudo, de forma tão perfeita como se fosse um escultor exímio a trabalhar na sua mais recente obra e cuja loucura lhe tenha ceifado a vida. Os corpos suados de ambos uniam-se por vontade da paixão e microscopicamente, átomos e electrões chocavam naquele quarto e o tornava cada vez mais abafado o que contudo não os impediu de continuarem, cada um deu ao outro aquilo que mais tinha de valor… durante horas a fio.

O poeta

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