Saio de casa ainda antes de haver luz do dia, como se não quisesse saber de onde venho, antes de chegar aonde vou. Mesmo assim, com o tacto apurado, sem quase abrir os olhos, inspecciono o meu pequeno pátio que estou a transformar em pequeno jardim. Tem paredes brancas, demasiado bem pintadas que emolduram a tijoleira que, durante o dia, sofre com a luz em demasia, e a minha sombra não é suficiente para nos proteger.
Sou bastante rápido a sair de casa. Abro a porta de repente porque tenho medo que as flores se fechem antes de as conseguir ver. Quando me chego perto delas, e percebem que já as cheirei, não têm tempo para se fecharem e ali ficam quietas a deixar-me examiná-las, como uma criança quando confia na sua mãe.
Ainda é possível ver o preço em alguns dos vasos, nos restos das etiquetas que jazem mutiladas no barro cozido.
Como se as estivesse a regar, vou de vaso em vaso, e debruço-me o tempo suficiente para as tentar reconhecer. Eu sei que elas não podem fugir nem trocar de vaso durante a noite, mesmo que o vaso ao lado seja maior ou que tenha sido mais caro, mas, antes de me deixarem ir embora, reparo que mesmo sem a luz do sol, as cores das flores são tão vivas, tão vivas, que nem consigo distinguir qual a cor que elas têm.
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